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Nota crítica do Brasil à Venezuela reflete incômodo com eleição no país vizinho e telefonema frustrado

Diplomacia brasileira divulgou texto em que manifesta 'preocupação' com o processo eleitoral no país vizinho

Nota crítica do Brasil à Venezuela reflete incômodo com eleição no país vizinho e telefonema frustrado
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Por Ricardo Abreu, TV Globo — Brasília

 

 
 
 
 

A nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) nesta terça-feira (26), que diz que o Brasil acompanha com "expectativa e preocupação" o processo eleitoral na Venezuela, foi considerada o resultado final de um longo processo, acompanhada de uma reflexão por parte do governo brasileiro sobre sua política externa em relação ao país vizinho.

Diplomatas e assessores palacianos ouvidos pela reportagem contaram detalhes do processo discutido internamente pelo Palácio do Planalto e pelo Itamaraty até o comunicado brasileiro, considerado mais duro do que os posicionamentos anteriores.

Desde a posse do presidente Lula, o governo buscou reconstruir pontes diplomáticas com a Venezuela, rompidas no governo Jair Bolsonaro. A primeira etapa foi marcada pela reabertura da embaixada do Brasil em Caracas.

A partir de então, o país teve papel central na negociação para a realização de eleições limpas e democráticas na Venezuela em 2024, que resultaram no Acordo de Barbados, assinado no fim do ano passado, e mediado pela Noruega.

Só que, segundo avaliação de integrantes do Itamaraty, desde que o acordo foi assinado, só houve retrocessos por parte da Venezuela.

A deputada María Corina Machado foi declarada inelegível pela Suprema Corte controlada por Maduro. Pessoas próximas à líder oposicionista acabaram presas, e funcionários do escritório do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos foram expulsos do país.

 

O sinal de alerta para o governo Brasileiro já estava aceso. Mas Lula preferiu aguardar a consolidação do chamado “retrocesso” com a data limite para a inscrição de candidaturas.

Em meio à preocupação, o presidente deu declarações impopulares sobre o pleito. Ainda em 2023, recebeu Nicolás Maduro para uma reunião fechada, em Brasília. Em discurso, defendeu Maduro e disse que as acusações de que a Venezuela é uma ditadura faziam parte de uma "narrativa". A declaração repercutiu mal dentro do próprio encontro de presidentes. Lula, em outra ocasião também disse em entrevista que o conceito de democracia era “relativo". 

Nesta terça (26), com a denúncia da filósofa Corina Yoris, opositora de Nicolás Maduro, de não ter conseguido se registrar para disputar as eleições presidenciais, e o fim do prazo de inscrições, o governo considerou a situação na Venezuela um "caminho sem volta”, que "coloca o processo eleitoral sob suspeita”.

A nota enviada nesta terça-feira, portanto, foi considerada por integrantes do corpo diplomático brasileiro como o “resultado final de uma reflexão do Brasil, que fala com autoridade de quem participou do processo de tentativa de transição democrática”.

A Venezuela, porém, não gostou da nota. Disse que pareceu ter sido redigida pelos Estados Unidos.

 

 

Tentativa de contato frustrada

 

A nota foi revisada pelo próprio presidente Lula, em reunião com o chanceler Mauro Vieira, nesta segunda-feira (25). Antes do comunicado ser publicado e divulgado, porém, o Brasil fez uma última tentativa. Lula deu uma ordem para o assessor especial da presidência da República, Celso Amorim, para que fizesse contato com Caracas, comunicando a insatisfação e o posicionamento do Brasil frente à impossibilidade de inscrição de opositores a Maduro relevantes na disputa eleitoral.

Mas o Planalto não esperava que a tentativa de contato fosse frustrada. Nem o Palácio de Miraflores, sede da Presidência da Venezuela, nem a Justiça Eleitoral venezuelana responderam ou sequer atenderam aos chamados do Brasil. A frustração foi determinante, portanto, no capítulo final de uma temporada de tentativas, desgaste com a opinião pública e um sinal vermelho para a chamada “transição democrática” na Venezuela. E às 13h27 a nota foi publicada no site do Ministério das Relações Exteriores.

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