Ideia é 'furar bolha' de apoiadores de Bolsonaro.
Por Pedro Henrique Gomes, Guilherme Mazui, Guilherme Balza, Ricardo Abreu, g1 e Globo News — Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne em uma semana com os governadores dos três estados que são os principais colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, respectivamente.
Lula se encontra com os três, todos de oposição a ele, de olho em aumentar sua influência nas eleições municipais e em tentar diminuir o espaço político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O último dos encontros acontece nesta quinta-feira (7) em Belo Horizonte, capital mineira, na primeira viagem de Lula ao estado neste terceiro mandato como presidente. Lula dividirá palanque com o governador Romeu Zema (Novo), que apoiou Bolsonaro nas eleições de 2022 e é um crítico frequente de Lula.
Na terça-feira (6), Lula participou da entrega de 832 apartamentos em Magé, ao lado do chefe do Executivo fluminense, Cláudio Castro (PL). Vaiado, o governador reiterou que Lula é bem-vindo e que as eleições acabaram. O presidente, por sua vez, fez acenos de volta.
Lula e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), em evento em Magé (RJ). — Foto: Ricardo Stuckert/PR
“A gente vai voltar a investir no Rio de Janeiro porque esse estado não nasceu pra ser dominado pelo crime organizado, porque a maioria dos cariocas são gente de bem. Por isso estou feliz de estar aqui”, disse Lula.
Lula ficou dois dias no Rio de Janeiro, com agendas na Baixada Fluminense e na capital. O prefeito Eduardo Paes, que é aliado do presidente, também participou das agendas. Paes conta com o apoio de Lula para se reeleger neste ano.
'Ato civilizatório' em São Paulo
Lula foi a Santos na sexta-feira (2) para anunciar, ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), investimentos na construção de um túnel que liga a cidade ao Guarujá, financiado com recursos federais e estaduais.
O presidente afirmou na ocasião que a solenidade foi um "ato civilizatório". Ele também declarou a Tarcísio, filiado a um partido de oposição ao Planalto, que a administração estadual terá "todo o apoio necessário" do governo federal.
"Tarcísio, você terá da Presidência da República tudo o que for necessário, porque não estou beneficiando governador, estou beneficiando o estado mais importante da federação", disse Lula.
No mesmo dia, em São Paulo, Lula participou da filiação de Marta Suplicy ao PT. A ex-ministra e ex-senadora retornou ao partido para ser a vice na chapa de Guilherme Boulos à prefeitura da capital.
Encontro a sós em MG
Segundo aliados de Lula, o movimento envolvendo os três governadores tem como objetivo isolar o ex-presidente Jair Bolsonaro, trazendo para o campo da “política normal” o debate, com aliados e adversários no mesmo ambiente.
Ao mesmo tempo, a iniciativa tenta furar uma bolha de apoiadores de Bolsonaro, um movimento executado em 2024 -- com as eleições para prefeitos e vereadores -- mas de olho nas eleições de 2026. Em 2022, Minas Gerais foi o único estado do Sudeste em que Lula venceu, e por uma margem apertada.
Na visita ao estado nesta quinta-feira, Lula deve se reunir a sós com Romeu Zema. O encontro foi um pedido do político mineiro, que pretende abordar temas do estado que envolvem o governo federal. O governador já disse publicamente que, apesar das diferenças políticas, defende o diálogo e que Lula é "bem-vindo" em Minas Gerais.
Lula chegou a Belo Horizonte às 15h45 de quarta-feira (6) e teve um jantar com empresários no mesmo dia.
Presidente Lula desembarca em BH. — Foto: TV Globo/ Reprodução
Já nesta quinta, o presidente e uma comitiva de ministros e outras autoridades participam de um evento no Minascentro para anunciar um novo modelo de concessão para a BR-381, conhecida como "rodovia da morte", e outra ações do governo federal no estado.
PAC da aproximação
O presidente pretende se encontrar com os governantes de todas as unidades da federação ainda no primeiro semestre deste ano.
Se em 2023 Lula dedicou-se mais à política externa do Brasil, em 2024 o petista quer percorrer o país e lançar obras do Novo PAC em todas as 27 unidades da federação.
O presidente optou por ir aos três estados do Sudeste ainda no começo de 2024, antes de uma visita ao Egito e à Etiópia, prevista para a próxima semana.
Os investimentos do PAC são vistos como o grande trunfo para essa aproximação. Os governadores têm interesse nas obras pelo impacto na popularidade e nas eleições municipais. Já o governo federal quer garantir recursos pro PAC em um momento de disputa com o Congresso Nacional pelo controle do orçamento.
Outro ponto é reduzir a dependência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e do Centrão. Ao se aproximar de figuras da oposição, Lula se fortalece politicamente "por fora" e em partidos de centro como Republicanos, União Brasil e PSD.
Lula e Arthur Lira — Foto: YURI MURAKAMI/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO; TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Além disso, há o entendimento de que o ex-presidente Bolsonaro, após passar 2023 na defensiva, começa a rodar o país e a fazer atos de rua.
O petista já adiantou que aposta em uma eleição municipal polarizada. Por isso, houve a decisão de reforçar nos estados a divulgação de ações do Planalto, como inaugurações e lançamentos de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a fim de melhorar a avaliação do governo e de incentivar as campanhas de candidatos aliados nas eleições de outubro.
Outro governador de quem Lula tem se aproximado é Ratinho Júnior (PSD), do Paraná. No final de janeiro, o presidente e o chefe do governo paranaense participaram da assinatura de concessão de rodovias do Paraná. Em seu discurso, o governador agradeceu a parceria do governo federal e de Lula.
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