Governo de Israel convoca embaixador brasileiro no país para o que chamou de uma dura conversa de repreensão
Por Fantástico
O governo de Israel decidiu convocar o embaixador brasileiro no país para o que chamou de "uma dura conversa de repreensão" depois que o presidente Lula comparou as ações de Israel na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus na Segunda Guerra Mundial por Adolf Hitler.
O presidente criticou os países que interromperam o financiamento para o órgão depois das denúncias de que integrantes da agência tiveram envolvimento no ataque terrorista de 7 de outubro em que o Hamas matou 1,2 mil pessoas e sequestrou 242 pessoas. As denúncias estão sendo investigadas pela agência e já resultaram na demissão de um grupo de funcionários.
Lula disse que o que acontece na Faixa de Gaza não é uma guerra, mas um genocídio. Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, mais de 28 mil pessoas morreram em Gaza desde o início da reação israelense.
“É muito engraçado. Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar a contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio”, disse Lula.
O presidente comparou a reação de Israel ao Holocausto, quando o regime nazista de Adolf Hitler exterminou 6 milhões de judeus.
“Sabe o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus. Então como é possível que a gente possa colocar um tema tão pequeno, sabe? Você deixar de ter ajuda humanitária? O Brasil condenou o Hamas, mas o Brasil não pode deixar de condenar o que o Exército de Israel está fazendo na Faixa de Gaza”, afirmou.
As declarações do presidente brasileiro geraram reações duras de autoridades e entidades israelenses. Em uma rede social, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, classificou as palavras de Lula como vergonhosas e graves.
"Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel de se defender. Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é cruzar uma linha vermelha. Israel luta pela sua defesa e pela garantia do seu futuro até à vitória completa e irá fazê-lo ao mesmo tempo que defende o direito internacional. Decidi com o chanceler Israel Katz convocar imediatamente o embaixador brasileiro em Israel para uma dura conversa de repreensão", escreveu.
"O presidente desonrou a memória de 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas e demonizou o Estado judeu, como o mais virulento antissemita. Ele deveria ter vergonha de si mesmo”, afirmou.
Os principais jornais israelenses também noticiaram a fala do presidente brasileiro.
O presidente do Museu do Holocausto, em Jerusalém, escreveu em uma rede social: "As palavras vergonhosas de Lula são uma combinação repugnante de ódio e ignorância. Comparar uma nação que luta contra uma organização terrorista assassina com as ações dos nazistas no Holocausto merece total condenação”.
“Olha, eu acho que a fala do presidente realmente passou da linha vermelha, como se diz. Porque ele já vinha criticando o governo de Israel, criticou Netanyahu por insanidade nas ações que ele estava tomando, mas até aqui ficava a crítica ao governo de Israel. Agora, ao comparar as ações de Israel com Holocausto, ele critica o próprio Estado de Israel. Eu acho que aí aumentou a gravidade e a reação do governo de Israel foi imediata. E tem acontecido isso sempre. É que ele, na área internacional, fala de improviso. Quer dizer, certamente o Itamaraty não partilha dessa opinião. Então isso realmente é muito grave, porque realmente faz uma comparação que, na minha opinião, não é apropriada. O Holocausto é uma coisa gravíssima, é uma coisa que supera a imaginação do mal. E a crise de Gaza é uma guerra localizada, é uma ação contra um grupo terrorista que matou israelenses também. Você pode criticar, como ele tinha criticado, se foi desproporcional a reação e tal. O próprio presidente Biden está criticado isso. Mas nunca ninguém chegou a comparar o que está acontecendo lá com o Holocausto”, diz.
A Confederação Israelita do Brasil afirmou que a fala do presidente brasileiro foi uma distorção perversa da realidade e ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes.
“Por mais triste que seja, isso é de uma certa forma acusar os judeus do crime de seus algozes de 80 anos atrás e, ao mesmo tempo, diminui e banaliza a memória das 6 milhões de vítimas do Holocausto. Inclusive, a Aliança Internacional de Memória do Holocausto, IHRA na sigla em inglês, que tem uma definição muito clara, onde o Brasil é membro observador dessa organização, junto com outros 40 e poucos países. Está lá muito claro que é um tipo de antissemitismo contemporâneo fazer qualquer tipo de comparação de políticas israelenses em relação aos palestinos, ao conflito árabe-israelense, ao processo de paz, ou seja, lá o que for em relação ao que aconteça no Oriente Médio, com o Holocausto. São coisas completamente diferentes e precisam ser separadas. O presidente pode criticar Israel, pode apoiar os palestinos, está no direito dele, no direito de qualquer país democrático, de líderes democráticos de apoiarem a solução de dois Estados, apoiarem Israel de se defender e os palestinos de terem um país, ou até mesmo de lamentar as mortes em Gaza, assim como as mortes em Israel. Isso que ele não lembra, a maior parte das vezes que ele fala, não lembra os reféns, ele não lembra as mortes que teve em Israel, não lembra os estupros e, ao mesmo tempo, ele faz essa comparação”.
No início da noite deste domingo (18), a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República divulgou uma nota em que não explica a comparação feita por Lula com o Holocausto, mas afirma que "o presidente Lula condenou desde o dia 7 de outubro os atos terroristas do Hamas; o fez diversas vezes; e se opõe a uma reação desproporcional e ao sofrimento de mulheres e crianças na Faixa de Gaza”.
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