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Javier Milei: como o novo presidente deve lidar com a crise econômica da Argentina

Vencedor da eleição deste domingo (19)

Javier Milei: como o novo presidente deve lidar com a crise econômica da Argentina
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Por Isabela Bolzani, g1

 

 
 

Milei, presidente eleito da Argentina, prometeu na campanha fechar o BC e dolarizar a economia — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Milei, presidente eleito da Argentina, prometeu na campanha fechar o BC e dolarizar a economia — Foto: Agustin Marcarian/Reuters

Eleito presidente neste domingo (19), Javier Milei terá que lidar com uma grave crise econômica na Argentina. O país sofre com um combo de problemas que inclui uma inflação altíssima (mais de 140% em 12 meses), desvalorização da moeda nacional, falta de reservas em dólar, endividamento e aumento da pobreza.

Para resolvê-los, o economista ultraliberal propôs durante a campanha medidas radicais como dolarizar a economia, abrindo mão do peso, e extinguir o Banco Central. No discurso da vitória, não mencionou essas medidas, mas disse que a crise exige medidas drásticas, "sem gradualismos".

Segundo especialistas consultados pelo g1, Milei pode ter dificuldade para pôr suas ideias em prática, já que inicialmente não conta com uma base ampla no Congresso argentino.

Os planos de fechar o BC e dolarizar preocupam o mercado, como ficou demonstrado pela forte aversão de investidores ao risco quando Milei foi o mais votado nas primárias, ainda em agosto. Como é feriado nesta segunda (20) na Argentina, os impactos da eleição de Milei só devem ser vistos na terça (21).

Veja abaixo algumas das promessas de Milei para a economia e o que especialistas esperam do novo chefe de Estado da Argentina.

 

Dolarização da economia

 

Um dos motes da campanha de Javier Milei era a promessa de dolarização da economia argentina. Dolarizar significa abandonar o peso argentino e ter o dólar norte-americano como moeda oficial do país.

“É uma ideia tão difícil de encontrar suporte em questões práticas que quem votou em Milei por essa questão, vai se decepcionar”, diz o economista da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria.

Não é um processo tão simples quanto parece. O país precisaria de ajuda da Casa da Moeda dos Estados Unidos para a importação de dólares. Além disso, ficaria dependente das decisões de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). (saiba mais abaixo)

Por fim, a falta de reservas internacionais – que minguaram em meio às dívidas externas bilionárias do país e às tentativas de controle do câmbio nacional por parte do Banco Central argentino – limitará o acesso da população ao dólar.

Essa conjunção de fatores faz as famílias argentinas guardarem a moeda norte-americana – que é mais forte, seguro e previsível do que o peso.

E com o receio da população de trocá-la por pesos argentinos ou colocá-las nas instituições financeiras, a moeda dos Estados Unidos fica ainda mais escassa no país. É isso que faz com que a Argentina tenha mais de 10 cotações de dólar além do câmbio oficial.

Há também uma grande possibilidade de que o governo encontre resistência do setor privado em aceitar completamente a ideia de dolarização, já que isso também poderia mexer com a competitividade empresarial e gerar a perda de atração do setor turístico local.

Para o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de São Paulo (Ibmec-SP) Alexandre Pires, uma dolarização da economia pode ser difícil de ser equacionada, mas outras possibilidades ainda não estão descartadas.

 
É mais do que realmente uma dolarização. É talvez fazer com que o governo pare de controlar os dólares que estão nas mãos dos argentinos, ou até ir para uma solução mais imediata, que seria permitir que os argentinos tenham conta em dólar, por exemplo.
— Alexandre Pires, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de São Paulo (Ibmec-SP)

 

Extinção do Banco Central

 

Outra promessa citada por Milei ao longo de sua campanha era a de extinguir o Banco Central da República Argentina (BCRA) – mais uma consequência da dolarização.

Isso porque, dependente do dólar e do Fed, a Argentina abandonaria sua soberania monetária e pararia de fazer arbitragem de juros básicos na economia. O BCRA perderia o seu principal papel.

“Isso faria o país começar a operar em outra chave. Abandonaria a questão dos juros e do câmbio, e seria uma economia que operaria simplesmente no seu nível de gasto fiscal. Ou seja, o juro da Argentina seria praticamente o juro dos Estados Unidos e [o governo] tentaria fazer com que a inflação do país caminhasse rumo à norte-americana”, explica Pires, do Ibmec-SP.

Na prática, no entanto, isso pode acabar sendo um problema para a economia. As decisões de alta ou corte das taxas de juros seriam feitas com base nos Estados Unidos e não considerariam eventuais necessidades do cenário econômico argentino.

 
Esse radicalismo econômico, com promessas muito controversas [...] pode, inclusive, deteriorar ainda mais o contexto de crise que o país vive. Essa decisão de tirar o poder de controle dos fluxos cambiais e da própria circulação de dinheiro da uma instituição centenária é complexa.
— Roberto Uebel, professor de relações internacionais da ESPM

“Vale lembrar que nenhuma economia até hoje fechou seu banco central, nem mesmo as mais liberais. Seria uma experiência inédita”, acrescenta.

 

Saída do Mercosul e corte de relações com Brasil e China

 

Durante a sua campanha, Milei também fez comentários sobre uma possível saída da Argentina do Mercosul e sobre eventuais cortes nas relações internacionais do país com o Brasil e com a China.

Para especialistas, além da dificuldade que o novo presidente pode encontrar em passar essas propostas pelo Congresso, ainda será necessário cuidado em relação aos efeitos dessas medidas na economia do país.

 

“É uma decisão que pode trazer consequências muito piores para a Argentina. Isso poderia limitar ainda mais o crescimento, por exemplo, o que agravaria os problemas de inflação e traria um aumento do desemprego”, afirma Uebel, da ESPM.

 

E esse cenário seria ainda pior em um eventual corte das relações da Argentina com o Brasil e com a China – dois dos maiores parceiros comerciais do país. De acordo com o sócio da PwC Bruno Porto, os efeitos mais visíveis inicialmente seriam nas cadeias de valor do setor industrial.

“Nós somos o primeiro parceiro comercial deles [...] e não tem como negar a importância dos chineses na compra de insumos de todo tipo de produto. Isso sem contar que também há uma relevância importante do ponto de vista de investimentos”, avalia.

Os especialistas destacam, no entanto, que qualquer tipo de conclusão ainda é prematura e que é preciso ver como o novo presidente vai agir, de fato.

“A Argentina tem uma oportunidade muito grande de aumentar as cadeias de valor com outros países na medida em que alcance um nível de estabilidade e previsibilidade. Mas para isso, é preciso esquecer essa coisa de vertente e lado político e focar no problema. É preciso orquestrar e planejar porque nenhuma mudança acontece da noite para o dia”, diz Porto.

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