Veja um panorama de cada uma dessas nações.
Países sulamericanos passam por crises institucionais. — Foto: Angela Ponce/Reuters/Matias Delacroix/AP Photo; Edgard Garrido/Reuters; Afonso Ferreira/TV Globo
O ano de 2024 começou com uma crise de segurança no Equador após uma universidade em Guaiaquil e uma emissora de TV local foram invadidas por homens armados com revólveres e bombas. Os ataques acontecem dois dias após a fuga do líder dos Los Choneros, uma das facções criminosas mais temidas do país, da prisão onde cumpria uma pena de 34 anos.
Esse é apenas mais um dos episódios de iminente colapso registrados em países da América do Sul, incluindo o Brasil, que no dia 8 de janeiro de 2023 teve uma série de ataques contra os poderes e uma real preocupação com um golpe.
Brasil, um líder?
Foto da reunião dos países sulamericanos, em Brasília — Foto: Ricardo Stuckert/PR
O Brasil, que já atuou como intermediário nos diálogos entre Venezuela e Guiana e fez uma megaoperação conjunta com a polícia do Paraguai contra o tráfico de armas se apresenta como um importante ator para manter o equilíbrio regional.
Logo no início do seu mandato, o presidente Lula (PT) convidou os presidentes da América do Sul para um encontro no Itamaraty e lançou 10 propostas para o progresso da região, focando na economia, meio ambiente e energia.
Na área da segurança, por exemplo, a proposta é de uma maior cooperação nas áreas de indústria militar, doutrina e políticas de defesa, com formação e treinamento.
💣 Equador
Soldados usam tanque para patrulhar rua do centro de Quito, no Equador, em meio à tensão crescente no país — Foto: Galo Paguay/AFP
A crise no Equador, que começou com motins em prisões, faz parte de uma onda de violência que vem tomando conta do país desde agosto de 2023, quando a eleição presidencial que deveria ocorrer apenas em 2025 foi antecipada após a dissolução da Assembleia Nacional.
Em agosto, às vésperas da votação, Fernando Villavicencio, um dos candidatos à presidência, foi morto a tiros à luz do dia ao sair de um comício.
Após a fuga de José Adolfo Macías Villamar, conhecido como Fito, chefe de facção criminosa, da prisão, no último domingo (7), o governo do Equador decretou estado de exceção. Na terça-feira, criminosos tomaram as ruas, promoveram sequestros e invadiram uma emissora de TV, colocando uma arma na cabeça de um apresentador.
O presidente Daniel Noboa então declarou 22 grupos como terroristas e criou um decreto de conflito armado interno, o que na prática caracteriza os criminosos como terroristas e libera o Exército e a Polícia Nacional a agir.
A situação do crime organizado no país se modificou nas últimas décadas, como explica o comentarista Guga Chacra, da GloboNews.
"No passado não se falava em cartéis e crimes organizados no Equador... Não podemos nos esquecer que o Equador faz fronteira com os dois maiores produtores de cocaína do mundo: a Colômbia o Peru. O Equador acabou entrando na roda e se tornando um grande centro para o envio dessa droga em direção aos EUA e para a Europa", diz Guga, ressaltando a participação de grupos criminosos do Brasil e da Europa nesse processo de tráfico internacional de drogas.
Em entrevista ao Edição das 18h, da GloboNews, o professor de Relações Internacionais da FGV/SP, Oliver Stunkel, explicou que o colapso do sistema carcerário é outro problema grave que culminou na crise equatoriana e que a instabilidade dificilmente será resolvida rapidamente.
Segundo ele,a situação do Equador mostra que o crime organizado da América do Sul "busca países menos protegidos e mais vulneráveis". O Equador, segundo o especialista, foi identificado pelo narcotráfico como um país útil para exportar a cocaína.
💣Argentina
A Argentina vive uma situação diferente de países como Venezuela e Equador. O país vizinho ao Brasil enfrenta há anos uma profunda crise econômica com reflexos na política. A expectativa mais recente aponta que a inflação mensal da Argentina deve subir para 28% em dezembro, segundo projeções. Caso se confirme, essa será a maior taxa em um mês desde o início de 1990.
A previsão de forte alta no índice de preços vem em meio ao cenário desafiador que o país enfrenta, com uma inflação anual que deve chegar a 200%, uma das mais altas do mundo.
Homem é detido durante onda de protestos contra pacote de reformas anunciado pelo presidente da Argentina, Javier Milei, em Buenos Aires, em 27 de dezembro de 2023. — Foto: Gustavo Garello/ AP
Para tentar conter as crescentes crises, o novo presidente argentino, Javier Milei, enviou ao Congresso um pacote com mais de 600 artigos declarando emergência pública e econômica até 2025. Milei ainda propôs mudanças nas eleições.
As medidas polêmicas geraram ondas de protesto em várias cidades argentinas e confrontos com a polícia.
💣 Venezuela
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, logo após referendo sobre a Guiana — Foto: Matias Delacroix / AP Photo
Questionamentos sobre a democracia rondam a Venezuela há muitos anos e a população do país sofre com sanções econômicas. No campo político, em outubro do ano passado o Ministério Público (MP) emitiu um mandado de prisão contra o opositor Juan Guaidó, que chegou a se autoproclamar presidente do país em 2019.
Na ocasião, Guaidó foi reconhecido pelos governos do Brasil e Estados Unidos, entre outros.
Maduro voltou a acusar os EUA de liderarem complô contra o regime chavista. Há mais de 20 anos o país atravessa uma crescente crise política, econômica e social, que resulta em um êxodo cada vez maior de venezuelanos.
Em 2023, a Venezuela se envolveu em uma crise internacional ao tentar anexar a região de Essequibo, o que gerou uma crise em outro país da América do Sul. A situação ficou menos tensa quando Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali, se encontraram, em evento mediado pelo Brasil, e acertaram a proibição do uso de força.
As milícias bolivarianas defenderam os locais de votação durante o referendo sobre Essequibo realizado na Venezuela. — Foto: GETTY IMAGES
💣Guiana
Em dezembro de 2023, os venezuelanos rejeitaram em referendo a jurisdição da Corte Internacional de Justiça sobre a longa disputa territorial do país com a vizinha Guiana e apoiaram a criação de um novo estado na região de Essequibo.
Fantástico foi até a Guiana ver de perto a região de Essequibo. — Foto: TV Globo/Reprodução
Localizado na parte mais a oeste do território da Guiana, a região de Essequibo ocupa 159 mil km² e representa cerca de 70% do território do país. Em 2015, foram encontradas grandes reservas de petróleo na região.
Estima-se que na Guiana haja o equivalente a 11 bilhões de barris, parte significativa deles "offshore", ou seja, no mar, perto de Essequibo. Em consequência do boom do petróleo, a Guiana é o país sul-americano cuja economia mais cresce nos últimos anos. A situação ficou menos tensa quando Maduro e o presidente da Guiana, Irfaan Ali se encontraram, em evento mediado pelo Brasil, e acertaram a proibição do uso de força.
💣Brasil
O dia 8 de janeiro marcou os atos golpistas, quando vândalos invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
A maior crise institucional do Brasil nos últimos anos aconteceu em janeiro de 2023, após derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas. Apoiadores golpistas de Bolsonaro que não aceitaram o resultado das eleições invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.
Na ocasião, o país vivia sob a tensão de acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército. Em um dos maiores ataques à democracia em décadas, o governo brasileiro precisou fazer um acordo com generais do Exército para desmobilizar o acampamento onde estavam concentrados os golpistas.
Um impasse, no entanto, levou as tropas da polícia do Exército e da Polícia Militar, a ficarem frente a frente próximo ao quartel.
Detalhes deste dia que já está na história brasileira foram relatados no documentário "8/1: A Democracia Resiste", da GloboNews, lançado no último domingo (7).
💣 Chile
O Chile viveu uma efervescência política em 2019, quando o então presidente Sebastian Piñera chegou a solicitar que ministros coloquem cargos à disposição. Naquele ano, o governo anunciou o aumento na tarifa do metrô, gerando uma onda de protestos que culminou em “Estado de Emergência”.
O Exército foi às ruas do Chile pela 1 ª vez desde a ditadura e o governo suspendeu o aumento.
Veículos blindados da polícia foram incendiados em confronto em Santiago — Foto: Esteban Felt/AP
No fim de 2021, o candidato de esquerda Gabriel Boric foi eleito presidente do Chile. A principal polêmica do novo governo, até agora, foi a proposta de mudança constitucional via plebiscito.
Em duas ocasiões, os chilenos rejeitaram uma substituição ao texto atual, que é da ditadura de Augusto Pinochet. A tentativa de mudança constitucional veio após os protestos de 2019.
💣 Colômbia
Cães farejadores são usados até em clientes de shopping center na Colômbia — Foto: GETTY IMAGES
Os colombianos tentam há anos se livrar dos traumas do comando do narcotráfico no país. Houve um fortalecimento do Estado, mas o país vive em constante estado de alerta por conta do histórico de conflitos armados que teve o auge nos anos 1990.
Em um dos episódios mais recentes da violência colombiana, o pai do jogador de futebol do Liverpool Luis Días foi sequestrado pela guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN). Ele ficou mais de uma semana sob o poder dos criminosos.
Luis Manuel Díaz, pai de Luis Díaz, do Liverpool, é libertado do cativeiro, em 9 de novembro de 2023 — Foto: Ivan Valencia/AP
O sequestro, segundo o governo, foi uma tentativa do grupo armado de arrecadar fundos, mas interrompeu diálogos de paz que o ELN, grupo que já matou 450 mil pessoas em 60 anos de atuação, travava com o governo da Colômbia desde o ano passado.
Em agosto, a morte de Fernando Villavicencio, candidato à presidência do Equador, foi associada também a um grupo colombiano.
A presença de colombianos em crimes contra políticos de outros países não é uma coincidência, segundo pesquisadores que estudam a Colômbia. O país teve décadas de conflitos com diversos grupos, e uma parte deles se especializou e passou a atuar fora do país.
💣 Peru
Manifestantes contrários ao governo entram em confronto com policiais durante protesto nacional para exigir a renúncia da presidente peruana Dina Boluarte, em Lima, no Peru — Foto: Angela Ponce/Reuters
O Peru é mais um país da região que vive uma sequência de crises institucionais. A atual presidente Dina Boluarte chegou ao poder depois que o Congresso aprovou o impeachment de Pedro Castillo. Ele foi destituído após uma tentativa de dissolver o Legislativo e decretar estado de exceção e toque de recolher no Peru.
Em 2023, milhares de pessoas foram às ruas em cidades peruanas para pedir a saída da presidente Boluarte. Dezenas de manifestantes morreram nos graves confrontos com forças de segurança.
💣 Bolívia
Imagem de Evo Morales durante entrevista no dia 6 de janeiro de 2020 — Foto: Matias Baglietto/Reuters
A crise política também se faz presente na Bolívia. Por lá, o Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia(TCP) inabilitou o ex-presidente Evo Morales como candidato à Presidência em 2025. A Corte anulou o mecanismo da reeleição indefinida que já havia permitido ao líder indígena recandidatar-se em 2019.
No meio do ano passado, Morales chegou a anunciar sua candidatura em meio à crescente tensão com o governo de seu ex-parceiro político, Luis Arce.
Com chutes, socos e puxões de cabelo, parlamentares governistas e da oposição na Bolívia se enfrentaram em uma sessão pública do Parlamento em maio do ano passado. A confusão ocorreu por causa de um relatório sobre a prisão do governador da região de Santa Cruz, principal nome da oposição no país.
Com chutes, socos e puxões de cabelo, parlamentares se agridem durante sessão no Congresso da Bolívia — Foto: Reprodução AFP
💣 Paraguai
Os paraguaios não vivem a mesma efervescência política do que seus vizinhos, mas o país também sofre com um problema quase que generalizado na América do Sul: a corrupção.
Em um dos casos mais recentes e que tem ligação direta com o Brasil, a polícia apreendeu, 1,8 mil armas na megaoperação contra o grupo comandado pelo maior traficante de armas da América do Sul, Diego Dirisio.
Armas apreendidas no Paraguai durante a operação contra quadrilha comandada por Diego Dirísio — Foto: Divulgação
Na Dimabel, órgão paraguaio responsável por controlar, fiscalizar e liberar o uso de armas, os investigados ocupam cargos de tenente, general, coronel e capitã.
💣Suriname
Distúrbios nas ruas de Paramaribo — Foto: Rinus Baes/Reuters
O menor país da América do Sul também passou por distúrbios recentes. Em fevereiro de 2023, um protesto contra o alto custo de vida resultou em distúrbios na capital Paramaribo, que foram dispersados pelas forças de segurança em meio a saques de comércios e à tentativa de invasão do Parlamento.
Entre 1.000 e 2.000 pessoas se reuniram pela manhã no centro da capital Paramaribo para protestar contra o aumento dos preços dos alimentos, da gasolina e da eletricidade, acusando o governo do presidente Chan Santokhi de corrupção.
💣 Uruguai
Protesto por conta da dramática crise hídrica que deixa o Uruguai sem água potável no dia 31 de maio de 2023 — Foto: AP - Matilde Campodonico
O Uruguai, país que também faz fronteira com o Brasil vive um momento sem grandes crises políticas ou de segurança que possam ameaçar a estabilidade do país. A situação mais complexa enfrentada pelos uruguaios no último ano veio por conta do clima.
Com uma crise hídrica histórica e chuva abaixo do normal, os reservatórios começaram a secar e a população teve que consumir água salobra.
Guiana Francesa
A Guiana Francesa, que também faz parte da América do Sul, não é um país, mas um território ultramarino da França. Localizada no nordeste da Amazônia, a Guiana Francesa é 98% ocupada por floresta – e o Parque Amazônico da Guiana, o maior da França, ocupa quase metade do território ultramarino.
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