Por Jornal Nacional
Aumenta o número de casos de câncer de mama entre mulheres cada vez mais jovens
O Jornal Nacional começa a exibir nesta segunda-feira (13) uma série de reportagens sobre câncer de mama, o tipo mais comum da doença em mulheres em todo o mundo. Os casos vêm aumentando em pacientes cada vez mais jovens. A reportagem é da Lilian Ribeiro.
“Eu detectei um mini carocinho na minha mama direita”, conta a professora de Educação Física Vanessa Pessoa da Silva, na época com 30 anos.
“Eu estava com 29 anos. Estava com os preparativos para o meu casamento”, diz a bancária Nicolli Scatolino Gonzaga Olmi.
“Não é possível, você bateu em algum lugar, você é muito nova, você não tem nada, você não está com câncer”, lembra Vanessa.
"Assim que eu entrei no consultório, ela já foi me dando o diagnóstico. Ela falou assim: ‘Olha, Nicolli, já saiu o resultado, deu câncer de mama’”, conta Nicolli.
“O caroço aumentou muito e muito rápido. Em pouco tempo”, diz Vanessa.
O câncer de mama é o câncer mais comum em mulheres em todo o mundo. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer é de que 73 mil mulheres recebam este diagnóstico, só este ano, no Brasil. O que representa mais de 30% de todos os cânceres na população feminina.
O maior grupo risco é formado por mulheres acima dos 50 anos. Mas a incidência vem crescendo também entre as mais jovens. Desde 2020, a doença em pacientes com menos de 35 anos passou de 2% para 5%.
“O câncer de mama jovem precisa ser discutido, precisa ser debatido. Só para você ter uma ideia, na nossa instituição, cerca de 15% das pacientes têm idade menor que 40 anos”, diz Idam de Oliveira Júnior, mastologista do Hospital de Amor.
“Eu tinha medo de não ser mãe, porque eu sempre quis ser mãe. Então, acho que foi medo, tipo, eu não acredito que isso está acontecendo comigo. Realmente, eu só tenho 29 anos. Não podia ser depois?”, questiona Nicolli.
Estudo mostra que câncer de mama está se manifestando com maior frequência em mulheres abaixo dos 40 anos
Pacientes com história familiar de câncer de mama fazem parte do grupo considerado de alto risco para a doença. Para quem não faz parte deste grupo, o Ministério da Saúde e o Inca recomendam a realização de mamografias, como exame de rotina, a partir dos 50 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia orienta que isso seja feito a partir dos 40 anos. E para quem está fora dessa faixa etária? É aí que, segundo os especialistas, entra um aliado importante: o autoconhecimento.
“As pacientes têm que conhecer a sua mama e estar ciente de que é possível que isso aconteça nessa idade. Porque, às vezes, as pacientes mais jovens acham que ‘eu sou muito nova para isso, então não preciso pensar nisso’”, afirma a mastologista Juliana Murteira Camache.
“Se conhecer ajuda muito, porque as mamas são completamente diferentes. Não existe mama padrão. Esse autoconhecimento faz com que você perceba aquilo que era o seu habitual e que não é mais”, afirma a mastologista Cecília Pereira.
Apenas 10% de todos os casos de câncer de mama são hereditários. Entre pacientes com menos de 35 anos, a influência da herança genética aumenta para até 25%. Essas pacientes já nasceram com uma alteração fundamental: de um gene de proteção do DNA.
Mas não é o que acontece com a maioria das mulheres que desenvolve câncer de mama. Ter filhos, engravidar cedo, amamentar por mais tempo são alguns fatores considerados de proteção contra a doença. Mas eles também são cada vez menos comuns por causa das mudanças no nosso jeito de viver.
E do outro lado estão fatores de risco, alguns cada vez mais presentes: má alimentação, sedentarismo, álcool, cigarro, uso inadequado de hormônio... Ao longo da vida de uma mulher, as células da mama vão sendo expostas a esses riscos. Elas vão sofrendo um estresse e a reação a ele pode causar alterações genéticas.
“Essas alterações genéticas você pode imaginar como se fossem ganhos, vantagens adaptativas. Então, ela consegue sobreviver com menor oxigênio, ela consegue se movimentar dentro daquele tecido como outras não conseguem, invadir outros tecidos. Até o momento que ela fica tão diferente e poderosa com essas vantagens que ela começa a se multiplicar e a querer ir para outros lugares. Quando essa célula, então, adquire essa capacidade, a gente define essa célula como uma célula tumoral”, explica o oncologista Rodrigo Guindalini, especialista em Oncogenética.
Vanessa passou por uma mastectomia e outras duas cirurgias para a reconstrução da mama. E ainda tem um remédio do qual ela não abre mão.
“A atividade física, para mim, eu falo que é meu remedinho diário. Cuidem de você, façam alguma atividade física. Isso ajuda muito no tratamento, antes, durante e depois”, diz a professora de Educação Física Vanessa Pessoa da Silva.
“Eu acho que não há mais nenhuma discussão. A atividade física reduz o risco do desenvolvimento de tumores e, nas mulheres que já tiveram tumores malignos, a atividade física melhora os resultados do tratamento. E quando essas mulheres são tratadas, depois de uma cirurgia curativa - fazem quimioterapia, hormonioterapia e etc -, aquelas que continuam fazendo atividade física pelo resto da vida têm um prognóstico muito melhor”, afirma o oncologista Dráuzio Varella.
Sete anos depois do diagnóstico, a Vanessa não tem mais nenhum sinal da doença e segue em acompanhamento médico. Ela continua falando do assunto e apoiando outras pacientes pelas redes sociais.
“A gente vive dando mais valor, a gente tenta aproveitar cada momento, a gente não sabe o dia de amanhã. Hoje, eu sou uma Vanessa que cuido mais de mim e penso mais nos outros”, conta.
A Nicolli operou o câncer e casou com o Fernando dias depois. Na volta da lua de mel, iniciou a quimioterapia. Foram cinco anos de bloqueio hormonal até poder realizar o sonho de ser mãe. Primeiro veio o Eduardo e, depois, a Fernanda. Foi uma jornada difícil, mas que ela conseguiu atravessar.
“A gente tem muitos percalços, muitos efeitos colaterais, mas a fé me salvou, o amor me salvou. Então, a gente precisa confiar nas pessoas que estão ali com a gente todos os dias, que amam a gente. Por mais difícil que seja, Lilian, a nossa atitude positiva tem que vir de dentro e faz toda diferença nessa caminhada”, diz a bancária Nicolli Scatolino Gonzaga Olmi.
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