Veja quem são as vítimas e a situação na região.
Por Viviane Lopes, Vitor Ferri, g1 ES
Carros revirados após as chuvas fortes em Mimoso do Sul, ES — Foto: Fernando Madeira
Mortes e destruição. Esse é o cenário de várias cidades do Sul do Espírito Santo após um forte temporal entre a noite de sexta-feira (22) e a madrugada de sábado (23). A tragédia no estado deixou aos menos 20 mortos, 7 desaparecidos e mais de sete mil pessoas fora de casa, de acordo com o boletim da Defesa Civil divulgado nesta terça-feira (26). O governo do estado decretou situação de emergência em 13 municípios.
Muitas famílias perderam tudo. A força da água foi grande. Quebrou muros, derrubou paredes de residências, invadiu lojas, escolas e prédios públicos, arrastou carros e caminhões. Além de vidas perdidas, o prejuízo passa pela perda de roupas, móveis e documentos. Nos locais mais afetados, também há registros de falta de energia, água e até comida.
Nesta reportagem, o g1 mostra um panorama dos principais impactos causados pelo temporal. Serviços básicos foram atingidos, como postos de saúde e escolas. Cidades e comunidades também ficaram isoladas.
Durante o temporal, entre sexta e sábado, algumas cidades chegaram a registrar mais de 300 milímetros de chuva no acumulado de 24 horas, mais do que o dobro do que estava previsto para todo o mês de março.
Mimoso do Sul , ES — Foto: Fernando Madeira
Equipes da Defesa Civil estadual e também de cada município afetado ainda estavam, até esta segunda-feira (25), realizando resgates. Havia dificuldades em fazer levantamentos totais de estragos, isso porque em muitos locais o acesso ainda estava complicado.
Confira abaixo o ponto a ponto da tragédia da chuva no ES:
- Mortes
- Quem eram as vítimas?
- Desaparecidos
- Desalojados e desabrigados
- Rastro de destruição
- Serviços essenciais afetados
- Ajuda
Mortes
Mimoso do Sul foi a cidade mais prejudicada pela chuva. Por lá, foram ao menos 18 mortes. Outras sete pessoas estão desaparecidas no município, segundo a Defesa Civil estadual.
Entre os mortos que tiveram a identidade confirmada na cidade, cinco eram moradores de uma Casa de Idosos. São eles:
- Davi Gomes da Silva, 51 anos
- Gilda Hastenreiter Leite Chalito, 50 anos
- Ester Santanna dos Santos, 26 anos
- Flávia Barboza Almeida, 20 anos
- João Carlos Alves Ferreira, 58 anos
Além das vítimas da Casa de Idosos, as outras 12 vítimas identificadas são:
- Adair Antônia Fernandes Medeiros, 43 anos
- Denise Beraldes Mendes
- Lorena Moraes Miguel, 17 anos
- Luzia Catarina de Souza Gonçalves
- Rosa Tome Poldi
- Antonio Marcos Fernandes de Souza
- Nelson Martins
- Rodrigo Moraes Miguel, 23 anos
- Sergio Luiz de Souza
- Heloísa Cornélio Pastor, 8 anos
Vítimas da tragédia da chuva no Sul do Espírito Santo — Foto: Reprodução
Já em Apiacá, cidade vizinha a Mimoso, duas mortes foram confirmadas. São elas:
- Clara Treggi Moutinho, de 87 anos
- José Ricardo de Oliveira Queiroz, 64 anos
Casa da família de Adair foi atingida por um deslizamento de terra e ficou totalmente destruída em Mimoso do Sul, Espírito Santo — Foto: Reprodução/Redes sociais
Ainda segundo a Polícia Científica do estado, alguns corpos do sexo feminino estão aguardando identificação no Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim. São de uma idosa e uma adolescente.
A polícia não divulgou a idade de todos os mortos confirmados e orientou apenas que possíveis familiares compareçam ao local para iniciar o processo de checagem da identidade e liberação.
Quem eram as vítimas?
Professora Adair Antônia Fernandes Medeiros morreu nas chuvas em Mimoso do Sul, Espírito Santo — Foto: Divulgação
Em Mimoso do Sul, uma das mortes confirmadas é a de uma professora de 43 anos. Adair Antônia Fernandes Medeiros era professora de Português e Inglês na cidade e estava em casa com o marido e os dois filhos, um de 6 anos e outro de 3. O marido e o filho menor conseguiram ser resgatados e foram levados para hospitais. O outro filho de 6 anos ainda estava desaparecido nesta segunda-feira (25).
Gilda Hastenreiter Leite Chalito, 50 anos, que morreu durante chuva em Mimoso do Sul, Espírito Santo — Foto: Divulgação
Outra vítima identificada é Gilda Hastenreiter Leite Chalito, técnica de Enfermagem 50 anos. Ela morava na Casa de Idosos que foi alagada. Gilda chegou a enviar um áudio para os familiares (ouça abaixo) falando sobre a chuva forte que caía na cidade, e comentou que os cuidadores levariam os hóspedes para a parte de cima da casa se a água entrasse no local.
"Aqui tá o maior temporal, com estalo e relâmpago. Aí eu perguntei a menina se encher o que eles fazem. Aí ela falou que pegam a gente e levam para a casinha mais alta, entendeu?", comentou Gilda em um áudio para os familiares.
Em Apiacá, uma das vítimas é a aposentada Clara Tregges, de 87 anos. Ela morreu afogada dentro do quarto. Ela estava acamada porque sofreu um AVC e tinha Alzheimer. A água subiu muito rápido e a família não conseguiu tirá-la de casa a tempo.
O aposentado José Ricardo Queiroz também foi uma das vítimas na cidade. O homem de 64 anos morreu salvando uma tia, também acamada. Quando viu a água tomando conta da rua e entrando na casa da mulher, ele passou mal. Teve um infarto. E por causa do alagamento, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) não conseguiu socorrê-lo.
Desaparecidos
De acordo com o último boletim divulgado pela Defesa Civil estadual, até a tarde desta segunda, sete pessoas ainda estavam desaparecidas, e todas eram moradoras de Mimoso do Sul.
A família da professora Adair, que morreu em Mimoso, falou ao g1 que o filho da vítima, de 6 anos, estava desaparecido, mas a Polícia Civil não divulgou o nome das pessoas que ainda não foram localizadas.
Desalojados e desabrigados
Ao todo, 7.296 pessoas estão desalojadas (que foram para residência de familiares ou amigos) e 408 estão desabrigadas, isto é, perderam o imóvel e foram encaminhados a abrigos públicos nas cidades de Vargem Alta, Mimoso do Sul, Bom Jesus do Norte, Apiacá e Muniz Freire.
Mimoso do Sul, ES — Foto: Fernando Madeira
Em Vargem Alta, 269 pessoas estão desalojadas. O abrigo disponibilizado na cidade fica na Escola Presidente Lubecke.
Em Mimoso do Sul, 18 pessoas estão desalojadas e 12 desabrigadas. O abrigo disponibilizado para acolher as famílias fica na Igreja Assembleia de Deus, em Santa Cruz da Serra.
A cidade de Apiacá, mais da metade dos habitantes foi afetada. O município possui 7.223 habitantes, sendo que 4 mil estão desalojados e 332 desabrigados. No município, o abrigo disponibilizado fica na Escola Maria de Lourdes Alves e na Igreja Santa Terezinha.
Em Bom Jesus do Norte, três mil pessoas estão desalojadas e 64 desabrigadas. Os pontos de apoio para as famílias estão na Creche Tia Fátima e na Escola Municipal São Sebastião.
E no município de Muniz Freire, nove pessoas estão desalojadas. Nenhum ponto de apoio foi divulgado pela prefeitura.
Rastro de destruição
Pessoas recolhendo alimentos sujos de lama após chuva forte em Mimoso do Sul, Espírito Santo — Foto: Fernando Madeira/Rede Gazeta
Os núcleos de Defesa Civil municipal das cidades atingidas ainda estão realizando um levantamento de todos os prejuízos causados pela chuva. Não foi possível precisar o número de ocorrências atendidas pelo órgão, mas os chamados foram principalmente para alagamentos, deslizamento de terra, quedas de barreira.
Em Mimoso do Sul, uma das cidades mais afetadas, uma enxurrada arrastou um caminhão do Corpo de Bombeiros. Vários carros também foram arrastados pela força da água. No outro dia, quando a água baixou, os veículos estavam amontoados e até em cima de muros.
O prefeito da cidade, Peter Costa, que chegou a se emocionar com a situação do município, também confirmou que os prédios da Câmara Municipal e da prefeitura foram atingidos.
Várias lojas como farmácias e supermercados perderam todo o estoque com a força da água. O material virou lama e, sem utilidade, foi jogado pelas ruas. Algumas pessoas se arriscaram e buscaram pacotes de comida em meio à sujeira.
Enchente deixa geladeira pendurada no teto de casa após chuva em Mimoso do Sul, Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
A força da água deixou casas totalmente cobertas. Uma geladeira foi parar no teto de uma residência, carros ficaram pendurados em muros. Em uma Casa de Idosos, a água chegou até o segundo andar e os pacientes tiveram que ser levados às pressas, mas muitos não conseguiram ser socorridos a tempo e cinco morreram no local.
Serviços essenciais afetados
A rodovia federal BR-101, que liga o Espírito Santo ao Rio de Janeiro, no trecho que passa em Mimoso do Sul chegou a ficar quase 24h totalmente interditada no km 461 no trecho da ponte sobre o Rio Itabapoana por causa do aumento do volume do rio. O trecho foi liberado, mas segue funcionando em pare e siga.
Algumas rodovias estaduais também foram afetadas. A ES-393, que liga as cidades de Mimoso do Sul e Muqui, está com pontos de interdição.
Água alcançou segundo andar de casa ao lado de rio em Mimoso do Sul, no Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Já a ES-297 tem pontos de interdição no Km 45 a 4 km da BR 101, sem previsão de liberação. Rotas alternativas foram feitas para os motoristas pegarem o trecho em Cachoeiro de Itapemirim a Alegre pela BR-482, Alegre a São José do Calçado e Bom Jesus do Norte, pela ES-181 e 484.
A ES-379 que liga Muniz Freire a Iúna e a ES-181 também estão com trechos interditados por causa de queda de barreira.
A fiação elétrica da cidade ficou coberta de vegetação que foi arrastada pela correnteza. Segundo a concessionária que administra a energia no estado, a EDP, a energia já voltou totalmente para os serviços essenciais (hospitais, postos de saúde, escolas e creches) e para 95% dos clientes impactados nos municípios afetados pelas chuvas de sábado (23).
Mimoso do Sul continua sem água, e segundo o Serviço Autônomo Água e Esgoto ainda não tem previsão para a volta do abastecimento.
A Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) enviou 12 caminhões-pipa para ajudar o abastecimento em algumas cidades mais atingidas: Jerônimo Monteiro (2), Bom Jesus do Norte (2), Vargem Alta (2), Alegre (1), Apiacá (2), Muqui (1), Muniz Freire (1) e Mimoso do Sul (1).
A empresa também produziu 12 mil copos de água envasada. Mais de 5 mil copos foram entregues nos municípios de Bom Jesus do Norte e Mimoso do Sul.
As cidades mais afetadas também chegaram a ficar sem sinal de telefone no sábado, mas a maioria deles já teve o sinal reestabelecido.
A Secretaria de Educação (Sedu) anunciou que 4.400 alunos estão sem aula nas escolas estaduais e não tem previsão para retorno as salas de aula. A Sedu disse que vai continuar monitorando a situação para informar sobre as aulas nos próximos dias. A medida foi tomada considerando a impossibilidade para muitos dos alunos utilizarem o transporte escolar, devido às vias interditadas.
Ajuda e doações
O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) anunciou no domingo (24) que enviou uma equipe da pasta prestar apoio aos dez municípios do estado do Espírito Santo atingidos pelas fortes chuvas.
De acordo com o ministério, os técnicos da Defesa Civil Nacional auxiliarão membros das cidades afetadas pelas fortes chuvas a fazerem os planos de trabalhos necessários para obter recursos do governo federal, seja para assistência humanitária, restabelecimento ou reconstrução.
- Alfredo Chaves
- Apiacá
- Bom Jesus do Norte
- Vargem Alta
- Mimoso do Sul
- Ibitirama
- Muqui
- Muniz Freire
- Guaçuí
- Castelo
Além disso, o Exército Brasileiro enviou equipes para prestar auxílio nesta segunda.
Exército chega em Mimoso do Sul para dar apoio por causa da chuva no Sul do Espírito Santo — Foto: Reprodução
No estado, uma corrente de solidariedade também se formou. A população capixaba junto com igrejas e empresas criaram campanhas de doação.
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